A bem da verdade, Juli também sentia falta de todo aquele tempo com a a amiga, afinal, fora uma vida inteira com ela. Mas também Julia seria injusta se dissesse ao namorado que este a estava sufocando, porque de fato, ele não era um "grude". Apenas a vida colocou as coisas dessa forma. A faculdade já causava alguma distancia, depois o emprego de Day e o estágio de Juli. E agora o Cleber, que acabara de pedir Juli em casamento. Ele era um cara bonito, trabalhador, gente boa, amável, não havia nenhum motivo para dizer não. E por outro lado, seu coração doía por saber que a amiga se sentia escanteada.
Para tornar tudo mais difícil, Day a cada dia parecia menos interessada em arrumar um namorado. Elas tiveram várias conversas, e o mal estar entre as duas começou a se instalar. E o mais improvável aconteceu certo dia na casa da Juli, numa dessas conversas. As duas começaram a discutir, primeiro batendo boca, depois elevando a voz, depois uma jogando na cara da outra coisas acumuladas de muitos anos, depois com ofensas gratuitas, xingamentos e gritos, até que, quando Juli se deu conta, sua mão já estava na cara da amiga, que desequilibrou e caiu no chão. A dor foi maior em Juli do que na própria Day. Juli imediatamente pede perdão sem acreditar no que fez. Day se levanta, se recompõe, e abraça a amiga. Ela também pedindo desculpas, dizendo que não foi nada demais. No fundo elas sabiam que sequer conseguiam ficar de mal. Elas choram abraçadas e depois conversam de forma mais amena sobe as mudanças que a vida impõe. Juli se casaria dentro de seis meses e ambas tinham que aceitar.
Quando Day vai embora (o que não era normal, pois sexta feira ela sempre dormia na casa de Juli, mas agora ela não queria ver a cara de Cleber logo de manhã no sábado), Juli chora amargamente. Day, que mora no mesmo bairro, vai derramando lágrimas também.
São nessas ocasiões, onde um ser humano não vê solução alguma diante de determinado quadro, que ele começa a imaginar coisas. Para Juli, foram três meses de remorso, pensando abobrinha. Ela simplesmente não estava disposta a retirar a amiga da sua vida. Não era só por dó, é que Day era sua amiga: sua irmã e sua prima; às vezes sua mãe e tia, e às vezes sobrinha e filha. Ambas estavam sofrendo. E para piorar, ela sabia que Day estava deprimida. Ela conhecia a amiga. A própria Juli estava numa bad faz tempo, também, desde que seu relacionamento com Day começou a desmoronar. Então ela teve um pensamento. Um lapso de segundo. Um raio, rápido. Um trisal. Um trisal resolveria o problema.
"Aff, cada coisa que estou pensando, que horror". E Juliana vai andando na garoa, chegando na faculdade.
Na volta, o metrô lotado, Juliana em pé. Depois ela sai da estação e caminha pelas ruas, novamente na garoa, até chegar à sua casa. Ela pega a chave e mais uma vez ela pensa:
"Trisal...aff, nome feio"
Ela retira o pensamento da mente e entra em casa. A casa escura, como sua própria mente; ela nem se dá ao trabalho de acender a luz. Só quer parar de pensar, parar no tempo. Senta no sofá, deixa a mochila no chão.
"Isso não faz sentido, o Cleber já detesta ela, de qualquer maneira..."
...
"...E a Day o odeia também"
.....
"Não sei nem porque estou pensando isso, sei que não vou fazer algo desse tipo..."
......
"Até por que, como eu diria uma coisa dessas a eles?"
.....
"Gente, sabe o que eu estava pensando??? Vamos formar um trisal?"
...
"Ridículo, não tem nexo"
.....
"Nenhum dos dois aceitaria e ainda me achariam louca"
....
"E ainda por cima esse nome é ridículo... trisal...aff, ridículo"
.....
"Embora, pensando bem, não é parece ser tão difícil assim, se eu...Aff, para de besteira, Juliana, isso não é coisa que se deve pensar"
....
"... Mas que daria certo, daria" - Juliana pensa.
Fim da Parte 1